quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Castelo de Vidro

Todos estão em frente a espelhos e só enxergam os seus próprios corpos, as suas próprias dores, os seus próprios fracassos, concentra-se nas suas angustias e querem ajuda, mas quando solicitados não podem ajudar.
Não existe mais verbos para se conjugar, o eu predomina, o eu prevalece, o eu é mais importante que o tu, que o nós, que o eles, mas esquecem que sem o tu, o nós ou o eles o eu fica invisível, solitário, reprimido.

É uma prisão coletiva, com celas individuais, não se possuem mais vizinhos, existe apenas pessoas que moram ao seu lado, não se conhecem mais o seu semelhante, as suas qualidades, os olhos críticos são apenas o que existe, os defeitos são os únicos comentados.

A sua dor é tão importante, o seu sofrimento é o mais perverso, a sua tristeza é a mais aflitiva, tudo em você é mais preocupante. Você está na fila mas não olha para trás, não enxerga outros mundos, outras vidas, é apenas o seu reflexo que reflete aquilo que você quer ver.

Você reclama do egoísmo, da corrupção, da falta de amor, mas você não dá um pão para quem te pede, não entrega o troco que te deram a mais, não olha para o andarilho. Tem mais com o que se afligir, se a oportunidade veio para que deixar fugir? Se aproveitar dos outros não é tão ruim assim. Só é horrível quando a vítima é você.

Reclama-se dos erros e neles persistem, ninguém quer a guerra mais inexplicávelmente ela existe, ninguém tem preconceito mais incompreensívelmente ele atinge. Com discursos preparados, as pessoas vivem da teoria e a sociedade da prática, funciona com os outros, mas não funciona com você.

Todos construíram castelos e nele habitam a solidão, o orgulho, a confiança, a hipocrisia, rodeados de espelhos e de covardia, enxergam apenas suas qualidades, enxergam apenas suas próprias vontades, o seu mundo, a sua imagem, são a autoridade máxima, não se permite comparações, competições. Poderoso castelo que se mancha quando outras mãos lhe tocam, que se ofuscam quando outro brilho surge. E as paredes do castelo são corbetas de vidro, o piso do castelo é feito de vidro, o teto do castelo só possuem vidros, que te fere quando você toca, pois o castelo que construísse só permite te contemplar, não existe erros, não existe falhas, existe apenas você.

Castelo de vidro que parece perfeito, mas é tão supérfluo que de nada serve, tão vazio, tão fútil, tão frágil, iguais os teus defeitos.

E se quiseres se libertar haverá que se ferir, se corte mas saia desses ecos, desses vidros destrua seus espelhos.

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